06 agosto 2008

Factos e Personalidades do Ramo d’Além (II)

Nota prévia: Sem prejuizo duma referência mais detalhada sobre os trabalhos de desenterramento e nivelamento pelo chão da entrada na capela do Ninho de Águia de duas campas aí existentes, no pressuposto de que uma delas pudesse pertencer a esta eminente personalidade natural do Cercal, vamos dar início à publicação, em duas partes, da sua biografia. Pelo tom daquela notícia, sob o título “Desenterrar o passado”, podemos concluir que se alimentaram demasiadas expectativas sobre a possibilidade de aí se encontrar sepultado o Padre Faustino José Jacinto Ferreira. Proximamente, depois da análise das campas tentaremos, todos juntos, descortinar uma data que nos sirva de orientação. Até agora, salvo erro, só conhecemos a inscrição “Faustino”. Mais tarde havemos de ampliar esta biografia, nomeadamente, na sua acção como Presidente Interino da Junta da Paróquia de Espite, na parte final de Cura da freguesia, do Padre Bento Ferreira Filipe, e da sua transição para o Padre António Pereira Simões em 25 de Julho de 1897. Padre Faustino José Jacinto Ferreira (1853-1924)1. Nasceu no lugar do Vale do Feto (Cercal), freguesia de Espite, no dia 24 de Janeiro do ano de 1853, filho de José Jacinto e de Inácia da Conceição. Neto paterno de Jacinto José e Ana Joaquina, e materno de Manuel Ferreira Filipe e de Maria Justina. Muito novo ainda, foi para casa de seu tio, Padre Bento Ferreira Filipe2 , ao tempo Prior das Cortes. Aí se preparou para o exame de admissão aos liceus. Frequentou o liceu de Leiria durante 3 anos, fazendo, após eles, um exame que era muito difícil, juntamente com o que viria a ser o Arcebispo de Mitilene, D. José Alves de Matos, dos Conqueiros, sendo os únicos que passaram entre muitos outros candidatos. Em Outubro de 1874 entrou no Seminário de Leiria onde fez todo o seu curso até 1881, ordenando-se presbítero em Maio desse ano, em Coimbra. Recebeu ordens menores e subdiácono3 em Badajoz, diácono em Lisboa e presbítero em Coimbra, das mãos de D. Manuel Correia de Bastos Pina. Existia ainda o antigo Bispado de Leiria, que viria a ser extinto no ano seguinte4. Em 9 de Junho cantou, com grande solenidade, a sua primeira missa na capela do Ninho d’Águia, próximo da casa paterna. Foi pregador na festividade, o cónego José Pereira da Costa, da Maceira. Terá sido a maior festa que ali se fez até hoje. Foi um dos melhores padres que teve o concelho d’Ourém e a diocese de Leiria. Logo após a ordenação e missa nova, fez exame de confessor, e foi nomeado pároco da freguesia de Rio de Couros, onde logo revelou exímias qualidades de cura de almas. Com a diocese extinta em 1882, o então governador do bispado, o Dr. António Miranda Oliveira, conhecedor das virtudes do Padre Faustino, transfere-o para a Marinha Grande, onde se colou e onde prestou relevantíssimos serviços, entre os quais, a ampliação da bela Igreja da Vila. Era muito querido dos marinhenses, que ao fim de 4 anos o viram partir, deixando órfã esta vasta comunidade. Esta saída da Marinha Grande, que se verificou em finais de 1886, foi devida a ter permutado o seu benefício com o então Pároco do Olival, Francisco Homem Nave Valente. Enquanto pároco da Marinha Grande, teve, como coadjutor, o P.e Joaquim Marques Ferreira. Fez o primeiro assento de casamento no Olival em 27-10-1886, enquanto que o seu antecessor, fez o último assento em 27 de Junho do mesmo ano. Uma vez no Olival, restaurou a igreja paroquial, obteve do Prelado de Lisboa e do Governo, preciosas imagens do Convento da Esperança, em Lisboa, e que hoje fazem parte de um autêntico museu, no Olival. (continua na próxima edição) 1 O Clero da Diocese de Leiria e o seu passado, Pe.e José Carreira, 1987. 2 O padre Bento Ferreira Filipe iniciou a paroquiar as Cortes, por 3 de Junho de 1872, quando fez o 1º baptizado na freguesia. Nesta data o promissor P.e Faustino já contava 19 anos, não era tão novo assim. 3 O que recebeu a Ordem da Epístola, a primeira das Ordens Maiores 4 O Diocese foi criada em 22 de Maio de 1545, pelo Papa Paulo III a pedido do nosso Rei D. João III, extinta a 4 de Setembro de 1882, e restaurada a 17 de Janeiro de 1918, pela Bula “Quo vehementius” do Papa Bento XV. Por decreto da Congregação dos Bispos de 13 de Maio de 1984, confirmada pela bula pontifícia “Que pietate”, da mesma data, tomou a designação de Leiria-Fátima. Jacinto Gonçalves